Médicos brasileiros aplicam pela primeira vez na América Latina técnica que usa células do sistema imunológico para combater as que são causadoras do câncer
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Foto: Divulgação |
Um funcionário público morador de Belo Horizonte, em Minas Gerais,
lutava contra o câncer desde 2017. Portador de um linfoma não Hodgkins
avançado, passou por radioterapia e quimioterapia sem sucesso. Quando chegou ao
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP,
interior de São Paulo, seu estado era gravíssimo, mas os médicos conseguiram
autorização para tentar uma nova terapia, que levou à remissão total da doença,
ou seja, não há mais sinais de atividade dela.
Ainda não é possível, porém, falar em cura, pois o diagnóstico final só pode ser dado depois de cinco anos de acompanhamento, período para ser descartado o risco de recidiva.
O novo tratamento para combater o câncer, chamado CAR T-cell, usa células geneticamente modificadas. Quem cuida do caso em Ribeirão Preto é o médico Renato Cunha, que está à frente da tarefa de desenvolver uma plataforma brasileira de terapia com células CAR T no âmbito do Centro de Terapia Celular (CTC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sediado na USP.
Nos Estados Unidos, a FDA (Food and Drug Administration, órgão de vigilância sanitária semelhante à nossa Anvisa) liberou a terapia para uso comercial em 2018. Lá os resultados são tão promissores que renderam aos seus precursores o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina no ano passado.
Ainda não é possível, porém, falar em cura, pois o diagnóstico final só pode ser dado depois de cinco anos de acompanhamento, período para ser descartado o risco de recidiva.
O novo tratamento para combater o câncer, chamado CAR T-cell, usa células geneticamente modificadas. Quem cuida do caso em Ribeirão Preto é o médico Renato Cunha, que está à frente da tarefa de desenvolver uma plataforma brasileira de terapia com células CAR T no âmbito do Centro de Terapia Celular (CTC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sediado na USP.
Nos Estados Unidos, a FDA (Food and Drug Administration, órgão de vigilância sanitária semelhante à nossa Anvisa) liberou a terapia para uso comercial em 2018. Lá os resultados são tão promissores que renderam aos seus precursores o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina no ano passado.
Trata-se, no entanto, de um tratamento caro. De acordo com o médico hematologista Dimas Tadeu Covas, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e coordenador do CTC, a produção das células e as despesas hospitalares, juntas, chegam a custar US$ 1 milhão (mais de R$ 4 milhões).
A plataforma brasileira, calcula Covas, poderá baratear o tratamento em até 20 vezes, na comparação com o custo de um produto comercial. Além disso, a ideia é que o CTC mantenha aberto o protocolo de produção de células CAR T, permitindo que outros laboratórios reproduzam as técnicas para cuidar de mais pacientes.
“O câncer, todo mundo sabe, é um desafio. Os tratamentos têm melhorado muito e esse tratamento com as células CAR T é um dos mais promissores que existem no momento. É um tratamento disponível em poucos países. Nós desenvolvemos uma tecnologia toda nossa, toda nacional, dentro de um instituto público, dentro de um hospital público, apoiado pela USP, pela Fapesp, pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e pelo Ministério da Saúde. Portanto, (é) um tratamento que se destina aos nossos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS)”, explica o professor.
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Foto: Células Humanas - Wikimedia/National Cancer Institute |
As células CAR-T
Nosso sistema imunológico é composto majoritariamente de dois tipos de células especializadas. Um deles é o linfócito B, responsável por produzir anticorpos. O outro é o linfócito T, que funciona como um guarda do nosso organismo – é ele que ataca as bactérias invasoras, por exemplo. No caso do tratamento realizado em Ribeirão Preto, o câncer do paciente era causado por linfócitos B doentes. E o que os pesquisadores fizeram foi extrair os linfócitos T da amostra de sangue do paciente para modificá-los geneticamente.
No laboratório, eles introduziram nessas células um vetor – uma espécie de vírus sintético que carrega no DNA a habilidade de reconhecer determinadas substâncias de interesse. Os linfócitos T modificados ganharam, então, um receptor que lhes permite reconhecer o alvo terapêutico. Foi assim que os linfócitos T se tornaram células CAR T.
Posteriormente, as células CAR T foram reintroduzidas no paciente. Aqui, o alvo era uma proteína chamada CD-19. Como a proteína CD-19 está presente na membrana dos linfócitos B doentes, agora as células modificadas conseguiam reconhecer e destruir as células cancerosas.
Com informações do Jornal da USP
Saiba mais: Jornal da USP - Ciências da Saúde
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Atualização em 18 de outubro de 2019
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